Terça...
Hoje
reproduzo uma matéria do Jornal do Commercio de Recife/PE sobre o Plano Real,
que alguns “lulopetitas” continuam a afirmar que foi péssimo, apesar de se
locupletarem do mesmo de forma vil.
Brasil teve sete planos econômicos e dez moedas antes do real
Tripé
macroeconômico fez a diferença entre o Plano Real e as demais tentativas
fracassadas
Publicado
em 01/07/2014, às 09h30.
Por
Adriana Guarda
Na manhã daquela sexta-feira, 1º de julho de
1994, o Brasil acordava com o nascimento de sua décima moeda (e sete nomes
diferentes). O real “vinha ao mundo” com a promessa de enterrar os anos de inflação
corrosiva e de instituir a estabilidade econômica no País. Os bancos abriram
mais cedo e um exército de 650 mil funcionários aguardaram a população, nas 15
mil agências da época, para fazer a troca da moeda. Ensandecidos com as contas
de multiplicar e dividir para transformar 2.750 cruzeiros reais (Cr$) em um
real, os brasileiros precisaram desentocar suas calculadoras das gavetas. Hoje
o Plano Real comemora 20 anos de criação, com o País deixando para trás uma
inflação de 2.477%, em 1993, e cravando uma taxa de 5,91% no ano passado.
Nessas duas décadas, o rendimento médio do brasileiro cresceu quatro vezes e o
valor do salário mínimo se multiplicou 11 vezes, passando de R$ 64,79 (em julho
de 94) para R$ 724 esse ano.
Ao longo da história, o Brasil bateu recordes
de tentativas de estabilização. Desde 1986 foram sete planos econômicos,
registrando média de um a cada 14 meses. No dia 28 de fevereiro de 1986, o
presidente José Sarney lançou o Plano Cruzado, tentando combater uma inflação
de 80% ao mês e resgatar a credibilidade da economia brasileira. O plano
substituiu a moeda de cruzeiro (Cr$) pelo cruzado (Cz$) e estabeleceu o
congelamento de preços. A população convivia com as tabelas de preços
publicadas nos jornais e fixadas nos supermercados. O governo incentivou a
figura dos “Fiscais do Sarney” para denunciar os estabelecimentos que tentassem
burlar o plano. Houve diversos abusos. Empresários eram vistos como vilões por
causa das campanhas equivocadas do governo.
O congelamento acabou
reduzindo a rentabilidade dos produtores e provocando desabastecimento no
mercado. Quem viveu àquela época lembra das filas e do racionamento na compra
de alimentos. “As pessoas só faltavam defender seu refrigerador com espingarda
12”, diz o economista da Ceplan, Jorge Jatobá. O Plano Cruzado fracassou e a
inflação voltou ainda com mais força.
Depois
vieram os planos Bresser (1987) e Verão (1989), os dois repetindo a fórmula do
congelamento de preços. “Todos fracassaram por conta de equívocos na sua
concepção teórica”, observa Jatobá. Em março de 1990, Fernando Collor de Mello
assume a Presidência da República e lança dois planos econômicos durante sua
gestão (Collor I e II), que traumatizaram a população brasileira com a medida
impopular de confisco da poupança. Com o impeachment de Collor, o vice Itamar
Franco assumiu a cadeira em 1993, ano em que a inflação brasileira atingiu seu
maior patamar (2.477%).
Após
trocar três vezes de ministro da Fazenda, Itamar convidou Fernando Henrique
Cardoso para ocupar o cargo. “FHC reuniu um time de economistas da PUC do Rio
com boa formação macroeconômica (Pérsio Arida, Edmar Bacha, André Lara Resende,
Gustavo Franco, Pedro Malan) para criar o Plano Real, que foi uma solução
brasileira extremamente criativa e sem similar no resto do mundo”, afirma.
Foram dez meses de discussão e 55 versões para fechar o projeto.
O
Plano Real se alicerçou em três fundamentos: ajuste fiscal, desindexação da
economia e política monetária restritiva. Os brasileiros também perceberam a
diferenciação do plano, porque ele foi aplicado em etapas. Uma delas foi a
criação da Unidade Real de Valor (URV), em março de 1994. A URV era uma espécie
de moeda virtual, com valor atrelado ao dólar. “A criação da URV foi um golpe
de mestre para desindexar a economia. Ela era como uma bola de festa que foi
enchendo com a inflação e, no dia 1º de julho de 94, foi estourada e ganhou
paridade com o real”, destaca Jatobá. O economista lembra que além da URV, em
1999 foi criado o regime de meta de inflação e no ano seguinte a Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF) para controlar a sanha gastadora dos governos. Em
paralelo, o governo adotou medidas como o aumento da taxa de juros para
restringir a atividade econômica e segurar a inflação.
Minha
mãe costuma dizer que faço parte da geração da estabilidade econômica. Ela
conta que os anos de inflação eram muito difíceis. As pessoas precisavam
comprar muita comida e armazenar, porque os preços estavam sempre mudando e o
salário desvalorizava”, diz o estudante de história da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE) Francisco Pedrosa, que nasceu em março de 1994. Distante dos
tempos de inflação galopante, o jovem conta que consegue planejar seus gastos.
A bolsa de R$ 400 que recebe de um programa de iniciação científica é gasto com
alimentação, livros, xerox e transporte.
“A
grande contribuição do Plano Real foi melhorar a vida do povo brasileiro. A
população não suportava mais os anos atormentados pelas máquinas de remarcação
de preços. O governo Lula manteve o tripé do programa, mas a gestão Dilma
começou a negociar essas premissas e a afrouxar no controle dos gastos. É
preciso tomar cuidado para que a conquista de ganho real que a população
experimentou não vá por água abaixo”, alerta o professor de macroeconomia da
UFPE, Marcelo Eduardo.
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